Desde o momento em que, no Jardim de Éden, o primeiro homem sentiu a necessidade de cobrir seu corpo, o ato de se vestir constitui verdadeiro guia para a elaboração de um retrato das diferentes sociedades, seus costumes, seus valores.Analisando as vestimentas adotadas por um determinado povo ou grupo social, podemos diferenciar países de origem, épocas históricas, classes sociais, estado civil, bem como seus hábitos e sua forma de agir e pensar.Para o Povo Judeu, as vestes sempre foram uma forma de manter sua identidade. No período bíblico, os profetas advertiam os judeus quando estes se afastavam de seus costumes, adotando a forma de vestir de outros povos. Em Pessach, lê-se na Hagadá que uma das razões para os hebreus terem sido salvos do Egito foi por não terem mudado seus trajes característicos durante os anos que ficaram em terras egípcias.
Se analisarmos o tipo de vestimenta usada em diferentes países e em momentos históricos, após a Grande Dispersão, no 1º século desta Era, quando os judeus são expulsos de sua Terra e forçados a viver como minoria no seio de uma sociedade maior, podemos discernir o nível de discriminação e perseguição a que eram submetidos, assim como o grau de inserção ou assimilação alcançado.
O judaísmo e as vestimentas
A história das vestimentas se inicia no momento em que o primeiro homem passa a ter consciência de sua nudez e sente a necessidade de cobrir seu corpo. Relata a Torá que antes de desobedecer a D'us comendo do fruto proibido, Adão e Eva viviam nus, no Jardim do Éden, sendo-lhes desconhecido o sentimento de vergonha. Mas, assim que pecaram e o mal passou a fazer parte de sua natureza, sentiram-se envergonhados e quiseram cobrir o corpo com folhas. Antes de expulsá-los do Jardim do Éden, D'us os veste com túnicas de pele de animais.
Pode-se deduzir a importância conferida pelo judaísmo às vestimentas através da afirmação da Mishná de que um judeu deve vestir-se de acordo com suas posses, mas deve alimentar-se abaixo das mesmas. Ademais, ensina nossa tradição que "A glória de D'us é o homem e a glória do homem é sua vestimenta" (Derech Eretz).
O judaísmo ensina que qualquer judeu - homem ou mulher - deve guardar a limpeza corporal e se vestir com recato. O sábio, em especial, tem que trajar roupas limpas e respeitáveis, pois se usar sapatos e roupas remendados estará trazendo vergonha à sua erudição (Tratado Shabat, 114a). Os líderes comunitários também devem usar roupas adequadas à sua posição na comunidade. O Talmud afirma que uma noiva tem um ano para preparar seu enxoval (Tratado Ketubot, 57a), e o marido tem a obrigação de dar à mulher anualmente, para as três Grandes Festas, um chapéu novo, um cinto, três pares de sapatos além de outras peças de vestimentas (ibid, 64b).
Mas, alerta o Talmud, é preciso cautela para não julgar uma pessoa apenas por sua aparência, pois nem sempre as roupas definem quem as usa. A própria grafia hebraica da palavra roupa, begued, alerta para isso; pois, com as letras Bet, Guimel e Dalet forma-se, também, a raiz da palavra bagod, que significa "trair".
Na Torá há algumas leis sobre o tipo de vestimentas que os judeus devem, ou não, usar. Um dos princípios básicos é que os homens são proibidos de usar roupas femininas, assim como asmulheres de se vestir como homem.
Entre as peças de vestuário masculino está o tsitsit, que, em hebraico, significa franja. A Torá exige que todo homem judeu use franjas - tsitsit - nos cantos de peças de vestuário que tenham quatro pontas (Números, 15: 37-41). Este mandamento é repetido todas as vezes que recitamos a oração do "Shemá". Os tsitsit são usados todos os dias como lembrete ao judeu dos demais Mandamentos Divinos.
Este preceito é observado através do uso do talit catan - o talit pequeno - também chamado de "tsitsit", usado diariamente debaixo da camisa, e do talit gadol, conhecido apenas como "talit". Este último é o xale ritual no qual os homens se envolvem ao recitar as orações matinais e em outros ofícios religiosos e que acompanha o homem judeu ao longo de sua vida. Durante a cerimônia do casamento, recobre os noivos para a bênção nupcial e, muitas vezes, acompanha o homem também em sua morte, sendo usado como mortalha. Suas dimensões variam, assim como os tecidos e tonalidades em que são confeccionados e os bordados com que são ornados.
Outra determinação bíblica sobre as vestimentas é a proibição do uso de roupa que contenha mistura de lã e linho - shaatnez, em hebraico. Só o Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, quando oficiava no Templo Sagrado de Jerusalém, podia trajar-se com essa mistura de tecidos. Este mandamento da Torá é um dos decretos supra-racionais, chukim em hebraico, incompreensíveis para a mente humana. O Talmud, no entanto, oferece várias interpretações; uma delas é relacionada à história de Caim e Abel e às respectivas oferendas que levaram a D'us. O primeiro era agricultor e levou plantas que dão o linho, enquanto Abel, que era pastor, levou ovelhas, de cujo pêlo se obtém a lã. Segundo a Cabalá, assim como estes dois filhos de Adão representavam forças espirituais opostas, que devem ser mantidas separadas, suas oferendas também não se devem mesclar.
Outra obrigação do homem judeu é cobrir a cabeça, principalmente durante as orações, bênçãos, dentro da sinagoga ou de outro recinto sagrado. Esta obrigação não provém de nenhuma injunção bíblica, é um sinal de reverência a D'us (Trat. Shabat, 156b), uma forma de reconhecer que há Alguém acima de nós.
O costume pode ter-se iniciado na época do Templo Sagrado de Jerusalém, pois os Cohanim usavam um turbante enquanto oficiavam os serviços religiosos. Mas, sabe-se que na época talmúdica, todos os sábios cobriam a cabeça. Inúmeras fontes revelam que havia aqueles que não davam mais de quatro passos com a cabeça descoberta, "pois a Presença Divina paira sempre sobre a cabeça" (Tratados Shabat, 118b e Kidushin, 31a). O costume pode ter-se iniciado na época do Templo Sagrado de Jerusalém, pois os Cohanim usavam um turbante enquanto oficiavam os serviços religiosos. Mas, sabe-se que na época talmúdica, todos os sábios cobriam a cabeça. Inúmeras fontes revelam que havia aqueles que não davam mais de quatro passos com a cabeça descoberta, "pois a Presença Divina paira sempre sobre a cabeça" (Tratados Shabat, 118b e Kidushin, 31a).
Nas gerações seguintes, o costume foi adotado por todos os judeus, principalmente durante as orações. Como no judaísmo, quando um costume se torna prática universalmente aceita, este adquire característica de lei, assim, o que era um sinal de fervor e respeito se transformou em um mandamento. Apesar de se poder usar qualquer tipo de chapéu para cobrir a cabeça, é costume usar a kipá, nome hebraico do pequeno solidéu tradicional, em iídiche yarmulke ou képele. Atualmente, pode-se reconhecer a que grupo religioso um judeu pertence pelo tipo de chapéu ou kipá usado.
As mulheres, desde a época bíblica, cobrem a cabeça em público após o casamento, já que não é permitido a uma mulher casada mostrar seus cabelos, a não ser para o marido. O tipo de véu ou chapéu variou de acordo com a época e a sociedade. Hoje, por exemplo, há mulheres que cobrem o cabelo com chapéus e outras, com belas perucas.
No antigo Israel
Pode-se encontrar na Torá e nos livros dos Profetas a descrição dos trajes judaicos da época bíblica. Os judeus usavam túnicas com mangas, chamadas de ketonet, que chegavam aos joelhos e eram amarradas na cintura com um cinto (sadin). Sobre o ketonet, os mais proeminentes usavam uma simlá, espécie de manto, ao passo que o resto do povo usava a abayá, que servia para aquecê-los à noite. Os profetas usavam sobre as vestes um tipo de toga, sem mangas, como símbolo de seu poder profético. Reis e líderes por sua vez usavam uma espécie de túnica, o me'il. Confeccionado em tecidos leves, e chegando à altura dos joelhos, assemelhava-se ao manto usado pelo Sumo Sacerdote.
Na época, como grande parte das roupas tinha quatro cantos, o tsitsit não constituía uma peça de vestuário separada, para cumprir o mandamento bastava aplicar as franjas nas roupas usuais.Os trajes eram feitos em lã ou linho, sendo o algodão introduzido posteriormente. Uma das primeiras menções a esse tecido apenas surge na Meguilat Esther. Os tecidos geralmente conservavam os tons naturais da fibra; somente as roupas dos dignitários e dos mais abastados eram tingidas de púrpura, vermelho ou violeta.
As vestes mais elaboradas eram sempre as cerimoniais, principalmente as utilizadas durante o serviço no Templo. Os trajes e turbantes dos Cohanim para oficiar no Templo de Jerusalém eram especiais, principalmente os do Cohen Gadol. Enquanto oficiava, o Sumo Sacerdote usava, além do me'il, o efod, que era uma veste tipo avental usada sobre as demais e, sobre este, um peitoral ornado com 12 pedras preciosas onde estavam gravados os nomes das 12 tribos. Durante os serviços de Yom Kipur, lê-se a descrição detalhada das quatro diferentes vestimentas que o Sumo Sacerdote usava no Dia do Perdão. Cada peça de seu vestuário revestia-se de profunda simbologia espiritual.
As mulheres na antiga Israel usavam algo similar ao ketonet e à simlá. Eram, porém, peças bem mais longas e mais largas, sempre com mangas. As roupas das mais abastadas eram ricas e perfumadas. Em certas ocasiões, como no dia do casamento, as mulheres usavam véus. Para proteger os pés quando saíam de casa, usavam sandálias de couro, na'alayim. Na época, caminhar sem sandálias era sinal de pobreza extrema.
Início da Grande Diáspora
A partir do ano 70 E.C, quando os judeus, expulsos por Roma da Terra de Israel, começam a se espalhar pelo mundo, suas vestimentas prontamente mudam, passando a refletir a vida no exílio. Obrigados a viver como minoria no seio de uma sociedade maior, raramente acolhedora, eles desenvolveram formas diferentes de se trajar, dependendo dos costumes circundantes - fossem estes islâmicos ou cristãos - e das restrições que freqüentemente lhes impunham.
Foi a partir do século 9, nos países sob domínio do Islã, e do século 13, nos países cristãos, que os judeus foram obrigados ao uso de roupas e distintivos especiais. O objetivo era torná-los facilmente reconhecíveis e, ademais, servir de "lembrete constante" de sua posição de "inferioridade".
Várias fontes, judaicas ou não, nos dão uma idéia sobre o trajar judaico durante a Idade Média e Moderna. São fontes literárias, documentos jurídicos, decretos de autoridades civis e religiosas, regulamentos internos das comunidades, bem como relatos de viajantes. Há, também, fontes visuais, principalmente as iluminuras encontradas em hagadot e sidurim, que são um retrato fiel da vida judaica na época medieval. Não podemos descartar os trabalhos de artistas cristãos, pois apesar da forma extremamente negativa de nos retratar, eles reproduzem as vestimentas de nossos irmãos na Europa cristã. Bastante úteis, também, são os relatos e ilustrações de viajantes e artistas que, a partir do século 15, registraram os trajes usados por judeus da Europa, Norte da África e Império Otomano.
Sob o domínio do Islã
No século 7, com a expansão do Islã, a maior parte da população judaica mundial passou a viver sob seu controle político e influência cultural. O Estado islâmico lhes concedera estatuto de dhimmis. Isto permitia a judeus e cristãos viverem em terras muçulmanas mediante o pagamento de impostos especiais. Na realidade, os dhimmis eram cidadãos de segunda classe, sobre quem podiam ser aplicadas inúmeras leis destinadas a rebaixá-los, social e economicamente. As restrições e imposições variavam muito, pois sua aplicação dependia da vontade de cada governante muçulmano. Estes podiam revogá-las ou aplicá-las, com maior ou menor severidade, dependendo de seus interesses e grau de fanatismo e, até mesmo, de seu humor. Entre outras exigências, a lei islâmica determinava o uso de trajes diferenciados para os não-muçulmanos. Uma das primeiras medidas foi obrigar os judeus a usar uma tira de pano amarelo em suas roupas. Com o passar do tempo, as restrições foram aumentando.
As cores que judeus e outras minorias não-muçulmanas podiam usar em seus trajes eram também determinadas pelos governantes muçulmanos. Era proibido usar roupas verdes, a cor do Islã, reservada aos nobres e dignitários. Em geral, os judeus eram obrigados a usar cores mais escuras. Por exemplo, na Turquia, Mesopotâmia e na então Palestina podiam usar violeta, vinho e marrom; no Marrocos, preto; e, na Tunísia, além do preto, o azul. No século 14, os mamelucos obrigaram os cristãos a se vestir de azul e os judeus de amarelo, cor associada à "vergonha" desde a Antigüidade.
Era permitido o uso de turbantes aos judeus e cristãos, sempre obedecendo o código de cores e tamanhos prescrito pelas autoridades. Peça de indumentária típica do Oriente, os turbantes revelavam a posição social e a condição econômica de quem os usava. Os dos judeus eram geralmente amarelos. Mas, o adorno de cabeça mais comum era o qalansuwa, parecido com um fez, cuja cor também era determinada. No século 17, na Pérsia, os judeus foram obrigados a usar um chapéu de feltro semelhante ao usado pelos escravos.
Na Espanha islâmica, foram raras as restrições adotadas contra os judeus, inclusive em relação ao vestuário. As classes espanholas mais privilegiadas, fossem muçulmanas, judias ou cristãs, vestiam-se com igual elegância e riqueza, com roupas de seda e outros tecidos finos. Usavam mantos de cores diversas, como verde, laranja ou rosa. E os turbantes foram sendo gradativamente substituídos por uma espécie de gorro de lã, em verde ou vermelho. Os judeus geralmente os usavam em amarelo.
Império Otomano
Do surgimento do Império Otomano, no início do século 14, até sua queda, no final do século 19, era enorme a variedade de estilos utilizados pelos judeus que viviam em suas terras. Havia, porém, algumas determinantes. Os Sultões exigiam que houvesse uma clara diferenciação nas roupas dos muçulmanos e não-muçulmanos. Além de não poder usar verde e serem obrigados a usar cores escuras, os tecidos e enfeites usados por todos que não haviam aceito o Islã tinham que ter qualidade inferior e menos luxuosa do que os dos muçulmanos. Os trajes deviam mostrar claramente sua qualidade inferior. O feitio e tamanho dos turbantes também obedeciam regras específicas.
Na Turquia, o traje dos judeus se distinguia pelo turbante negro e pelo antari, uma espécie de túnica aberta na frente, com mangas compridas e largas, com um cinturão que dava duas voltas na cintura. Por cima do antari, ainda usavam um redingote comprido, o jubá, forrado de pele de coelho. Feita em seda, esta peça costumava ser bordada, para as cerimônias festivas. Sob a túnica, usavam calças bufantes, ou chalouar. O fez, ou tarbush, um pequeno chapéu de feltro cônico, tornou-se muito popular em todo o Império Otomano, principalmente após ser incorporado ao traje oficial do governo.
Os trajes para casamento, tanto masculinos quanto femininos, eram coloridos e bordados com fios de ouro e levavam sobreposta uma espécie de túnica redingote. Em Salônica (Grécia), o traje típico das noivas conseguiu resistir às influências ocidentais até o século 20.
As comunidades judaicas do Marrocos são as que possuem os figurinos mais variados. Os trajes festivos se caracterizam pelo uso de veludos, brocados e sedas. Percebe-se forte influência espanhola, principalmente no vestido usado sob a chupá por grande parte das noivas marroquinas. Chamado de El Gran Vestido, ou pelo seu nome árabe, El-keswa El-kebira, o vestido das noivas era rico e elaborado.
Consistia, em, geral da zeltita, uma farta saia-envelope comprida, em veludo de seda vermelho-escarlate ou amarronzado, ricamente bordada com fios de ouro, por vezes com pedras semi-preciosas incrustadas. Na parte superior, um corpete em veludo da mesma cor da saia, o gombazh, também bordado. Por baixo desse colete, surgiam as kemam et-tesmira, longas mangas bufantes, em diáfana seda tramada com fios de ouro. Completava o traje um cinturão largo, que podia ser ricamente trabalhado em fios e pérolas. O arranjo da cabeça variava. Podia ser uma espécie de turbante formado por lenços coloridos, uma coroa em prata incrustada de pedras preciosas ou tiaras bordadas. E levava um festul, uma longa écharpe de seda branca ou verde, recoberta por um pequeno véu branco transparente, o elbelo, que recobria o rosto da noiva ao ser entregue ao noivo. (Ver Morashá nº 55).
No dia-a-dia, o judeu marroquino usava um caftã preto (djelabia) e na cabeça um tarbush sempre em cor escura. Por baixo dessas roupas, usavam trajes coloridos. As calças eram largas e bufantes, até os joelhos, e, por cima, um colete liso. O zocha, redingote preto, era usado pelas classes mais abastadas, em lugar do caftã. As mulheres usavam roupas brancas e vermelhas, múltiplas saias, xales bordados para cobrir a cabeça, além de jóias vistosas, como colares e braceletes largos.
Na Síria, até o início do século 20, os homens - fossem judeus, muçulmanos ou cristãos, usavam um imbazz ou yallak, uma espécie de caftã de algodão que chegava aos tornozelo. Em ocasiões festivas era em jacquard, às vezes com discretos fios de ouro ou prata. Nos meses mais frios, por cima do imbazz usavam um jibbeh, um tipo de capa de material mais pesado. Os mais proeminentes - como rabinos ou outros líderes religiosos, sempre usavam o jibbeh. Os trabalhadores usavam shirwal, uma calça bufante que chegava até o tornozelo, com uma camisa por cima. Na cabeça, os homens das classes menos abastadas usavam um turbante simples, o laffe. Rabinos e outras autoridades religiosas também usavam turbantes, mas bem mais elaborados. Muitos homens usavam na cabeça o tarbush cônico, em feltro vermelho ou vinho, estruturado para manter o formato. O fez usado em Alepo era bem mais alto, do tipo usado no Egito, Marrocos ou Tunísia.
Na Síria, os trajes típicos foram abandonados pelos judeus, principalmente pelas classes mais abastadas, assim que os costumes ocidentais passam a influenciar o país, no final do século 19. Os homens usavam ternos, mas a maioria manteve o uso do tarbush e, as mulheres, roupas e chapéus no estilo usado na Europa. As mais abastadas usavam roupas sofisticadas "à la mode de Paris".
Em algumas repúblicas muçulmanas remanescentes da antiga União Soviética, os judeus mantiveram traços das vestes tradicionais - pelo menos até emigrarem para Israel, na década de 1990. Oriundas do campo, estas populações aperfeiçoaram a arte do bordado da lã sobre seda, produzindo casacos, ternos masculinos, ou maaraz, sofisticados vestidos e longos xales usados ao redor da cintura ou como turbante. Um exemplo são os judeus de Bucara, com seus pesados casacos e caftãs de veludo bordado em ouro e pedrarias.
No Afeganistão e na Pérsia, os judeus se vestiam segundo os costumes locais. Antigamente, o traje comum compunha-se de calças justas e camisas bordadas com temas florais, cobertas por um chador, como ainda fazem as mulheres muçulmanas. Cobriam também a cabeça com xales de algodão ou em lamê, quando estavam em casa. Os homens usavam um turbante ou chapéu cônico.
Na Líbia, era o véu o elemento que diferenciava as mulheres judias das muçulmanas. As primeiras deixavam os dois olhos à mostra e, as segundas, apenas um. Já as judias argelinas mantiveram o uso de alguns trajes tradicionais em determinadas ocasiões, entre os quais lindos vestidos de musselina, coletes bordados com fios de ouro e lenços de cabeça ricamente trabalhados.
Na Europa cristã Durante o feudalismo e a Idade Moderna, as roupas assumiram um papel político-social: indicavam a classe social de quem as usava. Do séculos 16 ao 18, os tecidos bordados e luxuosos ainda eram privilégio exclusivo da aristocracia. A partir do século 13, as autoridades eclesiásticas e os governantes começam a exigir dos judeus um vestuário específico. As exigências variavam de acordo com o contexto social, as tendências políticas, o grau de anti-semitismo e, sobretudo, os interesses financeiros dos governantes. No ano de 1215, o Quarto Concílio de Latrão determinou o uso de um emblema para que os judeus fossem facilmente reconhecidos, "evitando assim o contato sexual entre cristãos e judeus". O infame "Distintivo amarelo da vergonha" consistia em um pedaço de pano de diferentes formatos, costurado no casaco. Com algumas variantes, seu uso tornou-se obrigatório na França, Inglaterra, Polônia, Hungria, Alemanha, espalhando-se também por outros países. Em 1267, o Concílio de Viena determinou que os judeus usassem roupas escuras ou pretas. Em muitos países, foram obrigados a usar o Judenhut, o "chapéu do judeu". De formato cônico, bem pontudo e amarelo, tinha o objetivo de ridicularizar os usuários, tornando-os objeto de escárnio popular. As mulheres eram obrigadas a usar chapéus com duas pontas, o Cornélia. Em sinal de excepcional deferência, alguns judeus proeminentes eram isentados do uso do infame acessório. Outro fator determinante do traje dos judeus na Europa foi a regulamentação interna de cada comunidade. Como tentativa de não despertar a inveja e o ódio nos cristãos, várias comunidades judaicas proíbem seus membros de se vestir de forma requintada ou ostensiva. Era proibido o uso de jóias e tecidos mais nobres, como seda e brocado. Os judeus ibéricos, mais uma vez, foram um caso à parte, pois mesmo após a Reconquista - quando a região voltou para mãos cristãs - e até serem expulsos da Espanha, em 1492, e de Portugal, em 1497, não sofreram nenhum tipo de imposição às suas vestimentas. Os mais abastados usavam roupas semelhantes às da realeza e das elites, incluindo pelerines e chapéus achatados para os homens. As mulheres, por sua vez, vestiam saias de seda e brocados com laços e cobriam a cabeça com véus curtos. Idade Contemporânea Foi somente durante a Revolução Francesa, em 1789, que se aboliu o uso do distintivo, considerado pelos revolucionários "a vergonha" não dos judeus, mas da Europa. O exemplo da França espalhou-se rapidamente por todo o continente, à exceção da Inglaterra, onde o distintivo já deixara de existir um século antes, quando os judeus foram oficialmente readmitidos no país. Com o início do processo de emancipação, foram desaparecendo as medidas que impunham vestimentas diferenciadas aos judeus, nos países da Europa Ocidental. Mas, para grande vergonha do Ocidente, o uso do distintivo judaico foi ressuscitado em setembro de 1941, pelos nazistas, sob a forma de uma braçadeira com a Estrela de David amarela, ostentando a palavra Jude no centro. Todos os judeus da Alemanha e do resto da Europa sob domínio nazista foram obrigados a usá-la enquanto durou o Terceiro Reich. Atualmente, a maior parte dos judeus, mundo afora, veste-se ao estilo ocidental. Somente certos grupos chassídicos preservam os trajes usados no shtetl - pequenos vilarejos da Europa Oriental. Suas vestimentas de Shabat consistem, até hoje, de um chapéu de pele, o shtreimel, pesados casacos pretos fechados na lateral, chamados bekeshe, e meias brancas grossas e altas. |
1-As vestes
Generalidades
As vestes eram semelhantes para ambos os sexos entre os hebreus. Ambos usavam vestidos e túnicas, embora de cores diferentes para distinguir os sexos. Em Deuteronómio 22:5 há uma advertência quanto ao uso de roupas entre os israelitas: "A mulher não usará roupa de homem, nem o homem veste peculiar à mulher; porque qualquer que faz tais coisas é abominável ao Senhor teu Deus".
O termo hebraico que aqui aparece para roupa ou veste י "simlâh" que se encontra também em Gn 9:23 para a capa com que os filhos de Noé o cobriram e em Dt 22.17 para mencionar a roupa com que a moça se cobriu e serviria de prova da sua virgindade. O que aqui se diz na realidade é que não usará o homem a capa da mulher nem esta a do homem. Ou literalmente: "Não haverá objectos masculinos sobre uma mulher, não vestirá o homem manto feminino..." A diferença no tecido e nas cores deve ter sido notável para que não houvesse engano provável. Ainda que fossem semelhantes as vestes não serviam para ambos os sexos. Cremos que se pode seguir a mesma regra em todos os tempos.
Verificamos neste costume bíblico alguma instrução para os homens de hoje usarem vestidos? Da mesma forma não vemos nele algum impedimento para a modificação das vestes femininas desde que se distingam das masculinas.
E quantas modificações têm sofrido as nossas roupas na história do vestuário?
Se assim não fora andaríamos ainda de pano enrolado ao tronco à espera da última moda, ou até mesmo com as peles como o homem primitivo.
Jesus não falou da maneira de vestir a quem quer que fosse. Há, porém, uma referência a roupas quando Ele aconselha a que não haja inquietação pelo que havemos de vestir (Mt 6:31), mas isto é uma chamada de atenção para a abundância do Seu Reino. S. Paulo aconselha as mulheres cristãs a trajar com modéstia e decência (I Tm 2:9). A ênfase é dada ao conjunto da apresentação da mulher que, embora com bom gosto, não deve fazer-se notar pelos vestidos luxuosos ou pelas jóias que ostenta, mas sim por obras de justiça.
O mesmo conselho lhes dá o apóstolo Pedro (1 Pd 3:3). Em ambas as referências não há a proibição ao adorno, visto que a ênfase, no contexto, vai para o comportamento moral da mulher. Claro que se alguém se apresenta na congregação extravagantemente adornado será um insulto aos mais pobres.
2. Os Véus
Toda mulher judia casada deve cobrir o cabelo, seja com uma peruca. A beleza é um dom Divino, e a tradição judaica encoraja homem e mulher a cuidarem da aparência e a sempre parecerem apresentáveis. A tradição judaica também encoraja o recato; não para esconder a beleza, mas sim para canalizar a beleza e os atrativos para que sejam guardados ao lugar ao qual pertencem ... Ao cobrir o cabelo, a mulher casada faz uma declaração: "Não estou disponível, não estou aberta ao público. Até o meu cabelo, a parte mais óbvia e visível de mim, não é para os seus olhos." Cobrir o cabelo tem um profundo efeito na mulher. Cria uma barreira psicológica, uma distância cognitiva entre ela e estranhos. Sua beleza torna-se visível porém discreta, ela é atraente mas inacessível. E mesmo se a peruca parecer tão verdadeira a ponto de ser confundida com cabelo natural, ela sabe que ninguém está olhando para a verdadeira ela. Assim cria um espaço particular, e somente ela decide quem vai entrar naquele espaço. Talvez em outras religiões recato e beleza não se misturem. Esta não é a opinião judaica. A verdadeira beleza, a beleza interior, precisa de recato para protegê-la e permitir que floresça.Sim jóias podem ser usadas.
Os véus que as mulheres hebreias usavam exigem que nos debrucemos um pouco sobre eles. Numa concordância hebraica encontramos três véus nomeados por termos diferentes:
a) “Mitpahath” é o manto que a viúva Rute usou para carregar seis medidas de cevada (Rt 3:15). Era semelhante à toga romana que cobria a cabeça e grande parte do corpo.
b) “Tsaiyph” foi usado pela donzela Rebeca quando se encontrou com Isaque e ainda pela viúva Tamar para enganar seu sogro fazendo-se passar por prostituta (Gn 24:65 e 38:14,19). Este véu cobria-lhe o rosto e de tal forma que Judá não a reconheceu.
c) “Radiyd” era um véu de grandes dimensões, de tecido fino, usado pelas senhoras, e encontra-se mencionado em Ct 5:7 e Is 3:23. Na Arménia as mulheres solteiras cobriam somente o queixo, as casadas metade das suas faces, e isto, na sua maioria, como um sinal de sujeição. Supõe-se ser este o véu mencionado por S. Paulo aos coríntios em virtude de sua grafia e som serem bastante semelhantes ao verbo “ter domínio sobre”. Levantar o véu a uma virgem tomava-se um grande insulto, enquanto tirar o véu a uma mulher casada era uma das maiores indignidades que se podia receber. E, realmente, as palavras do apóstolo em I Co 11 revelam este sentido. Devemos ter em conta que Corinto era uma cidade grega, com outros costumes, onde existia o culto da prostituição sagrada à deusa Afrodite, que era visitada por muitos marinheiros em busca de satisfação sexual. Uma mulher tinha de ir ali pelo menos uma vez na vida prestar culto, havendo ainda as "sacerdotisas" nesse serviço perverso.
Entre os gregos somente as prostitutas, tão numerosas em Corinto, saíam desveladas pelas ruas; as escravas usavam a cabeça rapada, o que era também a punição por adultério (Is 7.20). Os gregos, homens e mulheres, permaneciam descobertos na oração pública, e este costume Paulo recomenda aos homens. Quanto às mulheres, diz que orar ou profetizar sem véu era a mesma vergonha como se estivesse rapada (v. 5).[1][1]Por que motivo este incidente aconteceu não se sabe ao certo.
É muito provável que se tenham convertido algumas gregas que, segundo os seus costumes, frequentavam as reuniões cristãs, o que levantou polémica entre as mulheres hebreias. Também é possível que algumas mulheres cristãs tentassem pôr em prática o costume grego de orarem descobertas. Notamos que existe aqui um choque de costumes diferentes. Sempre, que alguém tentou mudar costumes houve um choque social.
Um caso semelhante, mas ao inverso, encontramo-lo em At 16:20,21 que diz:
“Estes homens sendo judeus, perturbam a nossa cidade propagando costumes
que não podemos receber nem praticar porque somos romanos”.
A respeito do problema de Corinto o que observamos à luz dos originais é o seguinte: Paulo defende o uso do tradicional véu hebreu para não ofender as mulheres judias que não queriam identificar-se com as prostitutas do templo. O verdadeiro sentido das suas palavras é este: “se alguma mulher não quer ocultar-se com o véu, então deve tosquiar-se. Mas se é vergonhoso tosquiar-se ou rapar-se, então deve cobrir-se (cf. v. 6). Nas expressões referentes a “cortar o cabelo” são usados dois vocábulos: “keirastho” e “xurasthai”. O primeiro tem um sentido vasto de cortar o cabelo, tosquiar as ovelhas, podar, etc. O segundo significa barbear-se.
Portanto, se a mulher não se oculta, tosquie-se. Concernente à cabeça descoberta ou coberta observemos as expressões originais: No v. 5 observamos a expressão “akatakaluptoi tei kephalei”, literalmente “com a cabeça descoberta”. No v. 6 estão as formas verbais “katakaluptetai” - cobrir-se - e “katakaluptestho” o qual está no presente imperativo médio, ordenando: cubra-se, oculte-se. Estes verbos são compostos com a raiz do substantivo “kaluma” (véu) e a preposição “kata” (para baixo) sendo, portanto, um véu da cabeça para baixo que oculta a mulher.
Nos versos 13-15 lemos literalmente: “Julgai entre vós mesmos: é próprio a mulher orar a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que se o homem tem cabeleira é desonra para ele? Mas se a mulher tem cabeleira é glória para ela, pois a cabeleira em lugar de mantilha lhe foi dada”.
Primeiramente, o apóstolo parece dar a escolher. Ou usa o véu, ou corta o cabelo. No final diz que o cabelo está no lugar do véu, parecendo haver contradição.
Mas com isto Paulo está defendendo a cabeleira e o uso do véu ao mesmo tempo. E está tentando convencer as crentes coríntias que, conforme o costume e a natureza da mulher, é mais próprio e belo o cabelo crescido. E, de facto, achamos mais bela uma mulher com cabeleira do que à “Joãozinho”.
Porém, nas palavras bíblicas nada encontramos que interdite cortar os cabelos e usá-los como entender, desde que seja a bom gosto e mantenha o aspecto feminino. O problema reside entre o verso 6 e o 15: aquele que diz que deve usar véu, este diz que o cabelo está em lugar do véu. A dificuldade está em que nós só possuímos um vocábulo para exprimir véu e os hebreus vários, e com o sentido de mantilha, como observamos. No original, a raiz das palavras nos versos 65 e 6 é "kaluma" véu, enquanto no v. 15 diz que cabeleira lhe foi dada em lugar de “peribolaiou”.
O apóstolo resolve a situação com o v. 16: “Porém, se alguém intenta ser contencioso, nós não temos tal costume nem as igrejas de Deus”. Reparemos bem na construção da frase e verificaremos que o costume que eles não tinham era “contender”, pois o adjectivo ‘tal’ refere-se à contenda. Isto é, não haja contenda sobre os costumes dos povos.
3. Os Adornos
O adorno das mulheres tem de igual modo a advertência dos apóstolos Paulo e Pedro:
"Do mesmo modo, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém, com boas obras” (1 Tm 2:9)
“Não seja o adorno das esposas o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior incorruptível com um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus”. (I Pd 3:3,4)
Ao atentarmos na leitura descobre-se que os escritores enfatizam a ideia de que a mulher cristã deve tornar-se notória pela nova vida, testemunhada nas boas obras. Note-se que “do mesmo modo” refere-se ao modo da oração em público, mencionada anteriormente, e ambos se dirigem às esposas, pois usam o vocábulo “gynaicas”. Naturalmente, não deverão ser excluídas desta advertência pelo motivo que adiante se dirá. Quando os apóstolos mencionam os cabelos frisados, ouro e pérolas, referem-se a tranças ornamentadas com ouro e pérolas à volta da cabeça. A palavra traduzida frisados é “emplokes” ou “plegmasin”, ambas derivadas de “pleko” que significa tecer, entrelaçar ou entrançar. É este mesmo verbo que aparece nos evangelhos para mencionar a coroa de espinhos que teceram para o Senhor. A expressão de Pedro (Shimon Kefa) “adereços de ouro” vem de “peritheseos xrysion” que literalmente significa pôr ouro em redor.
Ora, as mulheres orientais faziam tranças do seu cabelo (lembremos as sete tranças de Sansão) e ornamentavam-nas com ouro e pérolas à volta da cabeça.
Punham ainda uma redezinha a segurá-la, e usavam jóias nos dedos, nos braços
e nos artelhos. Confira-se com Isaías 3:16-24.
Parece que estes adornos eram uma cópia dos usados pela deusa babilónica Istar e, portanto, símbolo de paganismo. É este exagero pagão que os apóstolos aconselhavam a evitar para que as cristãs se não identificassem com as mulheres pagãs e prostitutas do templo.
De modo algum eles desaconselham o arranjo decente da mulher. Ambos usam termos derivados de “kosmos” que, além de significar mundo, tem o sentido de ordem, bem arranjado. Senão, vejamos como a ordem da criação tem beleza. O que se dá é maior ênfase à beleza interior de santidade, mansidão e submissão ao marido.
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